Observar alguém que observa um retrato pode ser uma experiência intrigante. Quem vê um retrato se vê no retrato? Talvez veja traços de uma história, de uma personalidade, marcas do tempo que passa ou do desejo na pele cuidadosamente macia ou barbada.
“Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou” [Jacques Lacan]
Pense agora na moldura que delimita o retrato na parede. Talvez você possa deslocar um pouco o quadro para ver o que encontra por detrás dele. Mas só se vê a textura da parede e o verso – avesso - do retrato. E um espaço vazio, vazio, vácuo. Curioso, porque é também o vácuo que separa o retrato dos olhos do observador. Esses vazios, essas fendas,
o espaço do entre.
Por fim, há o que nos separa, a nós, do observador de costas e o retrato entrevisto – isso, entre...visto. Uma distância imensa, mediada pela câmera e o olho do fotógrafo. Preenchida por manchas, ruído, descoloração. Preenchida pelo tempo, pela memória
a memória.
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